Portal de Eventos da ULBRA., XVIII SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

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Evidência de circulação de uma única linhagem do vírus da cinomose canina no Sul do Brasil
Marco Torres Silveira, Cristine Dossin Fischer, Cristine Hoffmeister Cardoso, Aline Makiejczuk, Nilo Ikuta, Vagner Ricardo Lunge

Última alteração: 23-10-2012

Resumo


O vírus da cinomose canina (CDV, canine distemper virus) é o agente etiológico de uma das principais infecções de cães domésticos e que também causa doença em outras famílias de carnívoros. A cinomose canina apresenta evolução variada (aguda, subaguda ou crônica) e sinais multissistêmicos, sendo caracterizada por graves sinais neurológicos em alguns animais. A infecção é altamente contagiosa e pode ocasionar elevadas taxas de letalidade. Dados recentes têm mostrado um aumento global na incidência da doença, incluindo até populações de cães vacinados. O CDV pertence ao gênero Morbillivirus, família Paramyxoviridae. A partícula viral é composta por diferentes proteínas, sendo que a Hemaglutinina (H) é a principal glicoproteína do envelope, responsável pela ligação aos receptores da célula do hospedeiro e que apresenta grande diversidade entre cepas. Conseqüentemente a análise do gene H é bastante utilizada para monitorar a variabilidade genética entre as diferentes linhagens de CDVs circulantes no mundo. O objetivo do presente estudo foi caracterizar o CDV de amostras de cães com cinomose atendidos no Hospital da ULBRA entre janeiro de 2010 e julho de 2012. Foram obtidas amostras de 184 cães de diversas idades (média de 28,3 meses) com sinais compatíveis com a doença, como conjuntivite/secreção ocular, secreção nasal, gastrenterite e manifestações neurológicas. A infecção pelo CDV foi confirmada em 91 (49,4%) dos cães pelo teste imunocromatográfico rápido (55 casos) e/ou técnica de nested-RT-PCR do gene N (Nucleocapsídeo) (83 casos). O desfecho foi registrado para 168 animais, sendo 104 (61,9%) com alta e 64 (38,1%) com óbito, dos quais 35 (20,8%) sendo encaminhados para eutanásia. Foram então selecionadas 25 amostras (16 de 2010, 8 de 2011 e 1 de 2012) para amplificação e seqüenciamento de região parcial do gene H e comparação com dados de amostras vacinais e de casos clínicos de todo o mundo. A análise filogenética mostrou que todas as amostras de CDV do nosso estudo agruparam em um mesmo clado, juntamente com outras 4 amostras previamente seqüenciadas no Brasil (estado do Paraná) em 2007, 5 amostras do Uruguai (uma de 2007, 2 de 2008 e 2 de 2009) e duas amostras da Argentina (ano de 2003). Estas amostras foram recentemente classificadas como linhagem South America 1 (Panzera et al., 2012. Virus Res 163 (2012) 401-404). Na análise comparativa das sequências de aminoácidos das amostras sul-americanas, ocorreram pequenas diferenças pontuais nas posições 335 (Isoleucina nas brasileiras, argentinas e duas uruguaias e Valina nas demais uruguaias) e 416 (Serina nas brasileiras e argentinas e Asparagina nas uruguaias). Na posição 530 foi observado que todas as cepas South America 1 tinham Glicina, enquanto na posição 549 as cepas usualmente apresentavam Tirosina, contudo 3 cepas brasileiras tinham Histidina. Todas as amostras apresentaram uma alta divergência da sequência de aminoácidos em relação às cepas vacinais com índices acima de 8%. Estes dados indicam a provável circulação de uma única linhagem nos últimos anos no Sul do Brasil.