A tuberculose (TB) é uma das mais prevalentes doenças infectocontagiosas do Brasil e, dentre os municípios do Rio Grande do Sul, ocupa a segunda posição em taxa de incidência da doença. É causada pelo agente Mycobacterium tuberculosis que rotineiramente é detectado por baciloscopia (BK) e/ou cultura. No entanto, na maioria dos locais, apenas o BK (que apresenta sensibilidade muito variável) é realizado. A cultura somente é feita para aproximadamente 20% dos pacientes que atendam a critérios específicos do Ministério da Saúde, como por exemplo, sejam casos anteriores de TB, HIV positivos ou tenham suspeita de resistência aos principais fármacos do tratamento (que tem se tornado cada vez mais comuns). O objetivo do estudo foi analisar o uso da cultura no diagnóstico da TB para todos os pacientes, incluídos no projeto, atendidos no Sistema de Saúde em Canoas/RS. Para tanto, após a realização do BK, todas as amostras clínicas de escarro provenientes do Departamento de Tisiologia foram cultivadas em Ogawa-Kudoh (meio específico para crescimento do complexo Mycobacterium). Foram analisadas amostras de 443 pacientes. Destes, 74 confirmaram o diagnóstico de TB pulmonar pelo BK e/ou cultura, 65 somente pela cultura e 39 pelo BK. Concomitante na cultura e no BK foram 30 casos. Possuíam coinfecção TB/HIV 7,1% (4/56). O sexo masculino foi predominante num total de 70%. Na comparação do BK com a cultura, a sensibilidade e especificidade foram de, respectivamente, 46 e 96,3%. Com a aplicação da cultura para todos os pacientes, o diagnóstico de TB aumentou em 53%. Portanto, a utilização da cultura (considerada padrão-ouro) em associação com BK ou mesmo outros métodos mais sensíveis de diagnóstico, como biologia molecular, por exemplo, poderiam contribuir muito para o aprimoramento do diagnóstico da TB e para o controle desta enfermidade tão negligenciada ao longo dos anos.