Esquizofrenia: Um olhar sobre o transtorno, tratamento e impacto na família Cintia Helena Leite da Silva* Jeferson Souza de Abreu** Elisabete Beatriz Maldaner*** RESUMO: A esquizofrenia é um transtorno que gera impactos consideráveis não apenas no paciente, mas também na família deste e em todos aqueles que o cercam (amigos, cuidadores, rede de apoio). Alterações no pensamento, baixo processamento cognitivo e dificuldades nas relações interpessoais são alguns dos prejuízos ocasionados pelo transtorno. Neste trabalho, através de revisão narrativa, exploraremos o assunto acerca de suas características, buscando compreender também como se dá a relação com os familiares, bem como explanaremos sobre o que pode contribuir na expectativa de oportunizar melhor qualidade de vida aos pacientes. A utilização da medicação, em especifico o antipsicótico, que é indispensável para manter a estabilidade do paciente e auxiliar no manejo desse transtorno é de grande importância. Entretanto é importante que se utilize em paralelo, outros tipos de intervenções como a psicoterapia de enfoque psicossocial, pois o apoio social se mostra como forte aliado no sentido de adaptação e melhoria das relações interpessoais do paciente. PALAVRAS- CHAVE: esquizofrenia; rede de apoio; relação com familiares. INTRODUÇÃO: Conforme o DSM-5 (APA, 2014), a Esquizofrenia caracteriza-se pela presença de dois ou mais sintomas como delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento desorganizado ou catatônico e sintomas negativos (expressão emocional diminuída ou avolia) e os sinais contínuos da perturbação persistem, pelo menos seis meses, devendo excluir-se perturbações de humor ou esquizoafetivas, bem como perturbações relacionadas com substâncias ou outra condição médica. A Esquizofrenia integra o Espectro da Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos. De acordo com Ferreira Junior et al. (2010, apud, MOLL, 2015), a esquizofrenia é um problema de saúde que ocasiona diversos prejuízos ao indivíduo tais como, baixo processamento de informações, déficits na cognição, nas relações interpessoais e até mesmo na questão do autocuidado. Além disso, segundo Sousa, Pinho e Pereira (2017) afeta cerca de 24 milhões de pessoas em todo o mundo, com maior incidência nos países desenvolvidos. É considerada pela Organização Mundial de Saúde –OMS (2009) como uma das dez doenças mais debilitantes que afeta os seres humanos. OBJETIVOS: Compreender o que é esquizofrenia, identificar aspectos que impactam na vida de familiares e/ou cuidadores de pacientes esquizofrênicos, bem como, investigar o que pode contribuir para uma melhor qualidade de vida do paciente. METODOLOGIA: Esta pesquisa é uma revisão narrativa e a busca das informações foi realizada tanto em livros, como também, em artigos científicos no banco de dados SCIELO, artigos e periódicos de revistas científicas online. DESENVOLVIMENTO: Em relação a definições é interessante atentarmos para alguns achados importantes que ocorreram sobre essa terminologia. Conforme Generoso (2008, apud MOLL, 2015) inicialmente o termo esquizofrenia foi denominado demência precoce, por iniciar na juventude e seu prognóstico considerado variável, podendo evoluir para o predomínio de alguns sintomas, tais como: embotamento afetivo, isolamento social e dificuldades cognitivas, alteração de atenção, compreensão e catatonia. Conforme Câmara (2007, apud MOLL, op. cit., p. 25): “Bleuler e Kraepelin foram figuras importantes na evolução histórica da esquizofrenia. Contudo, constata-se certa dicotomia em seus estudos, uma vez que Bleuler privilegiava os sintomas e não o curso e o resultado. Nessa perspectiva, esse estudioso enfatizava a alteração da capacidade de associação do pensamento e não o processo de deterioração, o que originou o termo esquizofrenia. Já Kraepelin defendia a ideia de que todas as pessoas acometidas pela demência precoce sofreriam de um processo de deteriorização, além de não valorizar os sintomas” Nos últimos anos, entretanto, a fase inicial da esquizofrenia e de outros quadros psicóticos passou a ser estudada de forma sistemática, buscando-se encontrar também fatores de risco, sinais e sintomas precoces de psicose (LOUZÃ, 2007). A partir dos diversos estudos surgiram várias definições sobre esquizofrenia e conforme Lobo, Mattiolli e Santos (2008, apud MOLL, 2015, p. 25) a de maior destaque é a que esclarece que a esquizofrenia é um transtorno associado a alteração do pensamento considerado grave e duradouro, gerando comportamentos psicóticos e diversas dificuldades como processar informações e no relacionamento interpessoal. As causas pelas quais o sujeito desenvolve transtornos do espectro da esquizofrenia ainda são desconhecidas, no entanto existem algumas associações entre fatores de risco e o transtorno, tais como: infecção viral, complicações obstétricas privação nutricional durante a gestação (VALLADA FILHO e SAMAIA, 2000). E conforme o DSM-5 (APA, 2014 p. 103) “existe forte contribuição dos fatores genéticos para esquizofrenia, embora a maioria dos indivíduos com diagnóstico do transtorno não tenha história familiar de psicose”. A esquizofrenia é uma condição crônica, para tanto, necessita tratamento com uso de medicamentos. Os antipsicóticos são muito utilizados uma vez que possuem grande eficácia em relação ao controle dos sintomas (NICOLINO et al., 2011). Além de antipsicóticos convencionais como o haloperidol decanoato, a pipotiazina, o zuclopentixol e o penfluridol, existe “a Risperidona Injetável de Ação Prolongada é o primeiro antipsicótico de segunda geração disponível no mercado que pode ser administrado intramuscularmente, em intervalos de duas semanas” (ELKIS e LOUSÃ, 2007, p. 195) O uso de medicamentos, acompanhado de outros recursos terapêuticos ensejam o alívio dos sintomas, redução de incapacidades e melhor estado de saúde, contudo é necessário considerar que o uso irregular e o abandono do tratamento são fatores pertinentes no âmbito clínico (BORBA et al. 2018). “A medicação não exclui as intervenções psicossociais, tais como terapia ocupacional, psicoterapias, psicoeducação, grupos de convivência e terapia familiar. Na verdade, ambos se complementam. Deste modo, o emprego de medicamento é uma forma de tratamento que deve ser considerada, mas não como a única” (BRISCHKE et al. 2013 p. 662). O desempenho psicossocial pode ser melhorado com psicoterapia de enfoque psicossocial que pode auxiliar o paciente em seus relacionamentos pessoais. As principais são: terapia de suporte individual, terapia de grupo, terapia educativa, terapia familiar, treinamento social. Todas elas objetivam facilitar a vida em sociedade dos pacientes diagnosticados como esquizofrênicos (BUCKLEY 1995, apud ALVES e SILVA, 2001). A terapia ocupacional possui forte destaque, pois através das artes (música, pintura, escultura) busca resgatar o senso de autoeficácia e autorrealização do paciente (ASSIS, VILLARES e BRESSAN 2013). Devido aos prejuízos ocasionados pelos sintomas do transtorno, o suporte social é um forte aliado à adaptação dos indivíduos frente aos fatores estressantes e à vida diária. Nesse sentido, percebe-se melhores condições de vida e redução da sintomatologia em indivíduos com esquizofrenia que possuem relações sociais de apoio ( SOUSA, PINHO e PEREIRA, 2017). Outro aspecto importante quando se fala em esquizofrenia é a relação familiar. Por se tratar de um transtorno altamente incapacitante, se faz importante ressaltar o impacto na família em ter um paciente com Esquizofrenia. Conforme Tessler et al. (2000 apud GOMES e MELLO, 2012 p. 4): “A sobrecarga que normalmente recai sobre os familiares pode ser de natureza objetiva ou subjetiva; sendo as de natureza objetiva as consequências negativas, concretas e observáveis, resultante da presença do doente mental na família, consideram-se as tarefas cotidianas extras que eles precisam realizar para suprir as necessidades do doente mental, as perdas financeiras, as mudanças radicais na rotina social, familiar e profissional do familiar, bem como o suporte que o esquizofrênico recebe de seus familiares”. Os aspectos subjetivos se baseiam no sentimento, na percepção do familiar sobre a situação, seu estado emocional e o grau de comprometimento de sua saúde mental (GOMES e MELLO, 2012). É sempre bom destacar que as pessoas que convivem com o paciente devem ser educadas quanto aos sintomas negativos do transtorno: devem tomar conhecimento de que estes são decorrentes de dano cerebral e não por preguiça ou desleixo. Tal conhecimento pode melhorar a aceitação das limitações por parte da família do paciente ( CORDIOLI et al., 2008). CONSIDERAÇÕES FINAIS: A esquizofrenia enquanto transtorno mental é altamente incapacitante e o paciente acometido necessita de cuidados e vigília constante pois suas crises e consequências podem impactar negativamente nos familiares e/ou cuidadores envolvidos. A utilização da medicação, em especifico o antipsicótico, que é indispensável para manter a estabilidade do paciente e auxiliar no manejo desse transtorno é de grande importância. Entretanto é importante que se utilize em paralelo, outros tipos de intervenções como a psicoterapia de enfoque psicossocial, pois o apoio social se mostra como forte aliado no sentido de adaptação e melhoria das relações interpessoais do paciente esquizofrênico. Faz-se necessário também, olhar para os que convivem com pacientes esquizofrênicos, visto que há uma forte sobrecarga e muitas vezes mudanças no cotidiano dos familiares pois necessitam oferecer maior suporte à eles. A educação sobre a sintomatologia do transtorno pode contribuir para melhor aceitação e enfrentamento destas questões. Ensejamos com este trabalho, ter contribuído de alguma forma para uma maior informação sobre o transtorno, bem como uma sensibilização do olhar das pessoas com relação aos cuidadores e familiares destes pacientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALVES, C. R. R.; SILVA, M. T. A. A esquizofrenia e seu tratamento farmacológico. Estud. psicol. (Campinas), Campinas , v. 18, n. 1, p. 12-22, Apr. 2001 Available from . Acesso em 06 out. 2018. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais. Tradução Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Porto Alegre: Artmed, 2014. ASSIS, J.C.; VILLARES, C.C.; BRESSAN, R.A. Entre a Razão e a Ilusão – Desmistificando a Esquizofrenia, pág. 199 , 2° edição, Artmed , 2013. BORBA, L. O. et al . Adesão do portador de transtorno mental à terapêutica medicamentosa no tratamento em saúde mental. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo , v. 52, e03341, 2018. Disponível em . acesso em 16 set. 2018. BRISCHKE C. C. B. et al. Convivendo com a pessoa com esquizofrenia: perspectiva dos familiares. Revista Ciência Cuidado e Saúde, pág. 662 Ago 2013. Disponível em acesso em 15 set. 2018 CORDIOLI, Volpato Aristides e colaboradores .Psicoterapias: Abordagens atuais, Cordioli e colaboradores, 3° edição, Porto Alegre, ARTMED, 2008 pág 681. ELKIS, H.; LOUZA, M. R. 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