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Acolhimento em clínica-escola:uma oportunidade de construção do ser psicólogo
Ana Paula Fernandes de Lima

Última alteração: 26-10-2014

Resumo


ACOLHIMENTO EM CLÍNICA-ESCOLA: UMA OPORTUNIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SER PSICÓLOGO

* Ana Paula Fernandes de Lima

** Juliana Predebon

 

RESUMO

 

O presente artigo trata da prática de acolhimento em uma clínica-escola de uma universidade na cidade de Guaíba, realizada por alunos estagiários de psicologia da referida instituição. O mesmo apresenta uma pequena revisão bibliográfica sobre o tema, bem como relata a vivência de estágio fazendo uma reflexão sobre a importância da atividade na construção do futuro psicólogo, e sua capacidade de proporcionar um atendimento humano e de qualidade no trato com os pacientes. A CESAP/ Ulbra Guaíba, Clínica Escola: Serviço e Atendimento Psicológico, oferece aos alunos de psicologia um espaço para a formação profissional.  A clínica oferece atendimento psicoterápico individual e em, grupo, além de avaliação psicológica para a população mais carente da região, trabalhando em rede com outros serviços do município.  Para atender a demanda que recorre à instituição, a CESAP oferece aos usuários a acolhida. Esse método foi adotado para que toda pessoa que procure a clínica, possam ter uma primeira escuta, sem necessariamente ter horário marcado. Para isso, se faz essencial sempre ter um estagiário disponível para realizar esse primeiro acolhimento, indicando qual o processo de entrada ao serviço. A Clínica oferece atendimento psicoterápico em duas ênfases: na Psicanálise e na Cognitivo Comportamental. O sistema público de saúde tem entendido o acolhimento como uma postura e prática na ação de atenção e gestão nas unidades de saúde. A prática favorece a construção de uma relação entre as equipes e o serviço, além de favorecer uma aliança entre os trabalhadores, usuários e gestores. Acolhimento expressa em suas diversas definições um ato de aproximação, um modo de “estar com” e “perto de”.  Ele está presente em todas as relações e representa não o que se passa em cada um dos sujeitos, mas o que se passa entre eles.  O que difere o acolhimento da triagem é que ele não é uma etapa do processo, mas a ação que deve ocorrer em todos os momentos do serviço bem como do local. Ele vai sendo construído em cada encontro, formando a construção de redes nos processos de produção de saúde (NEVES e ROLLO, 2006). Os serviços de saúde devem estar adaptados ao local e a população a qual se destinam, sendo necessária a compreensão do ambiente e do contexto em que estão localizados. O diálogo e a conversa são as ferramentas do trabalho em saúde. Eles são mediadores dos sujeitos e do serviço. Isso implica em “reconhecimento do outro, dentro de suas diferenças, singularidade e saberes” (GUERRERO, MELLO, ANDRADE e ERDMANN, 2013, pag. 135). O acolhimento é a incorporação de uma postura permeada pela decisão do serviço dar uma resposta ao usuário, sendo que  esta pode ir de uma orientação verbal até o atendimento clinico (GUERRERO, MELLO, ANDRADE E ERDMANN, 2013). O acolhimento é uma ferramenta que qualifica o serviço de assistência, pois centraliza a organização do processo do trabalho no usuário. Os usuários são vistos como sujeitos que possuem direitos e que também participam da produção dos atos de saúde. Isso reflete uma responsabilização; a de escutar a demanda do usuário, avaliá-lo identificando riscos e vulnerabilidade e ter o comprometimento com uma resposta. Acolhimento não é uma ação pontual e individual, deve ocorrer em todo o período de funcionamento do serviço.  Todos devem ser acolhidos da mesma forma, para isso, a equipe deve estar em sintonia de que todos acolhem e todos serão acolhidos (BARRA, 2011). Esse modo de entender o atendimento rompe com paradigmas tradicionais de acolhimento somente restrito na esfera espacial, ou seja, traduzida em ambiente agradável ou triagem administrativa e encaminhamentos para outros serviços especializados.  Acolhimento não deve ser restrito apenas a demanda espontânea na recepção, e mesmo que “o atendimento não seja imediato, ou não seja exatamente aquilo que o usuário foi buscar, o objetivo é que este seja escutado, acolhido, e tenha a oportunidade de compreender o porquê de tal resposta” (BARRA, 2011, pag. 136). De acordo com os métodos e as diretrizes da Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão (PNH) e na implementação da sistemática de acolhimento em redes ambulatoriais, acolhimento tem três diretrizes. A primeira se dá na ética, que se refere ao compromisso do reconhecimento do outro, na atitude de acolhê-lo, em suas diferenças, dores e modo de viver. A segunda se refere à estética, porque traz para as relações do dia a dia a invenção de estratégias que auxiliam para dignificação da vida e para a construção da humanidade. A última se refere à esfera política, pois reflete o compromisso coletivo de envolver-se, potencializando protagonismos em diferentes encontros. Sendo assim, acolhimento é uma postura ética, que não necessita de hora ou um profissional especifico para fazê-lo. São o compartilhamento de saberes, angústias, trazendo para o profissional de saúde, a responsabilidade de abrigar e agasalhar o outro em suas demandas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). O profissional envolvido no acolhimento deve ter uma abertura para o encontro e valorizá-lo, vendo-o como fundamental no processo da produção de saúde.  O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalho em saúde, de forma a atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo seus pedidos e assumindo no serviço uma postura capaz de acolher, escutar e dar respostas mais adequadas aos usuários. Ou seja, requer prestar um atendimento com resolutividade e responsabilização, orientado, quando for o caso, o paciente e a família em relação a outros serviços de saúde, para a continuidade da assistência, e estabelecendo articulações com esses serviços, para garantir a eficácia desses encaminhamentos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006, pag. 21). Segundo Ferreira (2009) o acolhimento modifica os moldes tradicionais de agenda e de consulta. Ele torna o usuário sujeito da situação. FERREIRA, 2009 apud MATUMOTO, 1998 diz que o usuário demonstra de várias formas sua necessidade. É necessário estar atendo a todo tipo de expressão dessa necessidade, sendo tanto comunicação verbal, não verbal, corporal, expressão facial, tendo todo esse conjunto como fonte de informação e interação com o usuário. E este, deve ser visto além de sua queixa.  Para Braier (2000) as entrevistas preliminares têm papel fundamental na relação paciente/terapeuta, sendo muitas vezes decisivas no processo terapêutico. Na prática clínica da CESAP, utilizamos a Psicoterapia Breve que trabalha em torno de um foco.  Segundo Lipp e Yoshida (2012), o foco é formulado pelo psicoterapeuta, de um lado, baseada na história do paciente e sua demanda e do outro, conceitos teóricos que o orientam.  Quando uma pessoa procura a clínica, ela é imediatamente acolhida por um estagiário. Nesse momento, ocorre a escuta do principal motivo que a levou a procurar o serviço onde se detecta a queixa, bem como o preenchimento de uma ficha de acolhida onde dados de identificação e motivação para atendimento são registradas, além do encaminhamento que normalmente é para a triagem. Nesse momento, são apresentadas as normas para atendimento na clinica, bem como a documentação exigida para o registro do paciente. As acolhidas realizadas são supervisionadas com a coordenadora da clinica, onde são discutidos os casos, e pontos que devem ser explorados na triagem. A partir de todos esses dados, é feita a indicação da melhor forma a ser abordada, seja ela psicoterápica ou não, onde então ocorre o encaminhamento para alguma instituição ou profissional, que trabalhe em rede com a clínica. Esse momento chama-se de devolução. Na acolhida, desde a forma como o paciente é recebido, a postura do terapeuta, sua atenção ao ouvir a queixa influenciam a forma como o paciente vai se vincular com o serviço. Nesta primeira escuta, a pessoa fala de seus problemas, e utilizam-se apenas poucas perguntas para esclarecer dados incompletos. Esse momento deve ser de no máximo trinta minutos. Ao realizar um acolhimento, o estagiário de psicologia da clinica escola é desafiado a manter uma postura de disponibilidade terapêutica. Ou seja, a qualquer momento ele pode ser solicitado a realizar uma escuta, sem prévia solicitação, ou tempo anterior de preparo. Ele se vê frente ao paciente, a suas necessidades e deve estar aberto a entendê-lo e recebê-lo com sua demanda. Essa escuta aproxima o estagiário da realidade social da comunidade, tomando conhecimento dos diferentes contextos sociais existentes na população do município. Através dessa prática, o estudante de psicologia é desafiado a atender a demanda trazida sob olhar da Psicoterapia Breve, procurando utilizar técnicas já vistas teoricamente, atendendo indivíduos com problemas e procurando na medida do possível, orientá-lo mesmo em casos em que o motivo da procura não esteja em acordo com o que a clinica oferece. Ouvir, esclarecer, orientar e encaminhar, são passos que estão presentes em todos os momentos da acolhida. A Clínica Escola- CESAP está em consonância com as diretrizes do SUS que tem como princípio a integralidade. Ela proporciona ao aluno de psicologia da universidade, a experiência de clínica ampliada. Mesmo que não trabalhe diretamente de forma multiprofissional, através de encaminhamentos tem-se contato com vários profissionais que atuam na rede de saúde da comunidade. Apesar de o acolhimento ser uma prática na vida, nem sempre ele é percebido na vida diariamente, ou realizado de forma efetiva. Um serviço de saúde ao realizar esse tipo oferta de serviço, concede ao estagiário uma importante oportunidade de conhecer a realidade de vida dos pacientes, bem como promove uma oportunidade de melhora da percepção de si mesmo frente aqueles que o procuram. Diferentes contextos e histórias estimulam o estagiário a repensar sua postura frente a diversos pacientes, bem como auxilia na construção da identidade do psicólogo e o desempenho do seu papel.  Durante a supervisão, a prática pode ser avaliada, e orientada para que o futuro profissional possa ter uma postura receptiva frente ao que lhe é apresentado, e implicada na resolutividade da questão.

Palavras-chave: acolhimento, escuta, clinica-escola

 

 


* Acadêmico da disciplina Estágio de Processos Clínicos I do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil.

** Docente do Curso de Psicologia  da Universidade Luterana do Brasil e orientador deste trabalho.

 


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