Portal de Eventos da ULBRA., XIX SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

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Representações, Práticas Culturais e Pedagogias das Comemorações na Imprensa Negra no Rio Grande do Sul (1920-1930).
Jessica Santos Lima

Última alteração: 29-10-2013

Resumo


O presente projeto de pesquisa tem como objetivo investigar as representações culturais mais recorrentes sobre a data de 28 de setembro de 1871 e os abolicionistas nela envolvidos, durante as comemorações da Lei do Ventre Livre no jornal negro “O Exemplo”, na década de 1920, em Porto Alegre. Trata-se de mapear os múltiplos significados atribuídos pelas lideranças negras a essa data, a escravidão e abolição, aos abolicionistas, brancos e negros, suas associações e clubes nas lutas pelos direitos dos negros no pós-abolição. Esse projeto de pesquisa se vincula às demandas de implementação da Lei 10.639 e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.  O jornal negro O Exemplo circulou em Porto Alegre de 1892 até 1930, com algumas interrupções. Segundo Zubaran (2009) O Exemplo foi o primeiro impresso da história da comunidade negra porto-alegrense e trata-se de um testemunho de inestimável valor histórico e cultural para a interpretação da memória das populações afro-descendentes no pós-abolição. Em termos teórico-metodológicos, aproprio-me das teorizações da historiadora francesa Geneviève Fabre (1994), sobre o conceito de comemorações que considera como pertencentes à história cultural e política dos afro-descendentes e não como simples manifestações do folclore, importantes apenas nos calendários oficiais, mas como gestos políticos que contribuem para preservar a memória coletiva e reafirmar o compromisso dos afrodescendentes com a liberdade. Andrews (1991), Butler (1998), Domingues (2005) e Zubaran (2009) valeram-se da análise da imprensa negra para estudar a construção das identidades afro-brasileiras no pós-abolição. Utilizo-me de suas análises e de teóricos dos Estudos Culturais, para o entendimento do conceito de representação e identidade. A seguir apontamos alguns resultados parciais obtidos nessa pesquisa. As comemorações do 28 de setembro foram representadas pelas lideranças negras porto-alegrenses como “um dos dias mais gloriosos da pátria”, “como uma lei moralizadora”, como um “golpe mortal contra a escravidão” e como “o direito à vida para os filhos dos escravos”. Quanto aos abolicionistas relembrados nessa data, evoca-se a “memória imaculada de Rio Branco”, também a “memória bendita”, de José da Silva Paranhos, Castro Alves, Joaquim Nabuco, Rebouças, Marcílio Dias e outros. Também o dramaturgo Arthur Rocha foi representado como “ilustre abolicionista” e “talentoso peregrino”. O 28 de setembro foi também o momento de evocação das memórias da escravidão, representadas como “lúgubres”, como um “carcinoma” e para “reverenciar a memória sagrada dos abolicionistas”.Também se produziram representações da Lei do Ventre Livre associada ao corpo das mulheres negras “aos seios cuja cor ebanizada servia para amamentar seres brancos e seres pretos”. As lideranças negras do jornal reconheceram a abolição da escravidão em Porto Alegre de 1884.


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