Última alteração: 10-11-2025
Resumo
O bem-estar emocional de mulheres privadas de liberdade representa um desafio negligenciado, frequentemente agravado pela precariedade estrutural do sistema prisional e pela ausência de ações com enfoque de gênero. Este relato apresenta os resultados de uma ação baseada em pesquisa-ação, idealizada na disciplina de Políticas Públicas e Gestão em Saúde e aplicada na disciplina de Práticas Interdisciplinares. O projeto foi realizado no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre (IPFPOA), que objetivou promover o bem-estar e contribuir para o equilíbrio emocional das participantes. A metodologia envolveu uma sequência de seis encontros interdisciplinares com cerca de 20 internas, incluindo palestras sobre espiritualidade, sexualidade, direitos no cárcere e saúde da mulher, além da leitura de trechos do livro "O Pequeno Príncipe" e dois momentos avaliativos. Docentes e profissionais das áreas de Psicologia, Direito, Teologia e Enfermagem conduziram as atividades, com o apoio de acadêmicas de Medicina. Para a coleta de dados, foram aplicados questionários antes e após cada encontro com escalas de 1 a 10 para avaliar a percepção de bem-estar, a ansiedade e o impacto da atividade. A análise dos dados demonstrou resultados significativos, como uma redução média de 40% nos níveis de ansiedade e um aumento na percepção de bem-estar e na valorização pessoal. As atividades mais eficazes, segundo os dados obtidos, foram as rodas jurídicas, as oficinas artísticas e as conversas sobre espiritualidade e sexualidade. Apesar dos avanços, algumas internas relataram a persistência de sofrimento emocional e apontaram carências estruturais, como a falta de insumos de higiene e de apoio psicológico contínuo. Conclui-se que práticas interdisciplinares, pautadas na escuta ativa, linguagem acessível e abordagens humanizadas, contribuem de forma relevante para o autocuidado e a ressocialização, reforçando a urgência de políticas públicas focadas nas especificidades femininas dentro do sistema prisional.
Palavras-chave: Bem-estar emocional; Cárcere feminino; Práticas interdisciplinares; Humanização; Ressocialização.